terça-feira, 28 de setembro de 2010

Definitivo - Caldos Drummond de Andrade

Definitivo, como tudo o que é simples.


Nossa dor não advém das coisas vividas,


mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.



Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos

o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções


irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado


do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter


tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que


gostaríamos de ter compartilhado,


e não compartilhamos.



Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.



Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas


as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um


amigo, para nadar, para namorar.



Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os


momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas


angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.





Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.



Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo


confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,


todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.




Por que sofremos tanto por amor?



O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma


pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez


companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.



Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um


verso:



Se iludindo menos e vivendo mais!!!



A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida


está no amor que não damos, nas forças que não usamos,


na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do


sofrimento,perdemos também a felicidade.


A dor é inevitável.


O sofrimento é opcional...

Ainda sobre AMIZADE

"Quero ser o teu amor amigo. Nem demais e nem de menos.


Nem tão longe e nem tão perto.

Na medida mais precisa que eu puder.

Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,

Da maneira mais discreta que eu souber.

Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.

Sem forçar tua vontade.

Sem falar, quando for hora de calar.

E sem calar, quando for hora de falar.

Nem ausente, nem presente por demais.

Simplesmente, calmamente, ser-te paz.

É bonito ser amor amigo, mas confesso é tão difícil aprender!

E por isso eu te suplico paciência.

Vou encher este teu rosto de lembranças,

Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."
(Fernando Pessoa)

Amigos, ainda…

Um dia a maioria de nós irá separar-se.


Sentiremos saudades de todas as conversas


jogadas fora,


das descobertas que fizemos, dos sonhos


que tivemos, dos tantos risos e


momentos que partilhamos.


Saudades até dos momentos de lágrimas, da


angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim…


do companheirismo vivido.


Sempre pensei que as amizades


continuassem para sempre.


Hoje não tenho mais tanta certeza disso.


Em breve cada um vai para seu lado, seja


pelo destino ou por algum


desentendimento, segue a sua vida.


Talvez continuemos a nos encontrar, quem


sabe…nas cartas que trocaremos.


Podemos falar ao telefone e dizer algumas


tolices…


Aí, os dias vão passar, meses…anos… até


este contacto se tornar


cada vez mais raro.


Vamo-nos perder no tempo….


Um dia os nossos filhos verão as nossas


fotografias e perguntarão:


“Quem são aquelas pessoas?”


Diremos…que eram nossos amigos e……


isso vai doer tanto!


“Foram meus amigos, foi com eles que vivi


tantos bons anos da minha vida!”


A saudade vai apertar bem dentro do peito.


Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes


novamente……


Quando o nosso grupo estiver incompleto…


reunir-nos-emos para um último


adeus de um amigo.


E, entre lágrima abraçar-nos-emos.


Então faremos promessas de nos encontrar


mais vezes daquele dia em diante.


Por fim, cada um vai para o seu lado para


continuar a viver a sua vida,


isolada do passado.


E perder-nos-emos no tempo…..


Por isso, fica aqui um pedido deste humilde


amigo: não deixes que a vida


passe em branco, e que pequenas


adversidades sejam a causa de grandes


tempestades….


Eu poderia suportar, embora não sem dor,


que tivessem morrido todos os


meus amores, mas enlouqueceria se


morressem todos os meus amigos!






Fernando Pessoa